A logística da última milha representa a etapa final do processo de entrega, conectando os produtos das empresas aos consumidores. Esse trecho final da cadeia de suprimentos sempre foi um desafio operacional, mas, com o crescimento do e-commerce e a mudança nas expectativas dos clientes, tornou-se um dos aspectos mais caros e complexos.
Nos últimos anos, os custos da logística da última milha vêm crescendo continuamente, e essa tendência deve se manter no futuro. O aumento da demanda por entregas rápidas, a escassez de mão de obra, a inflação e as novas regulamentações ambientais são apenas alguns dos fatores que impulsionam este aumento contínuo.
O que é a Logística da Última Milha?
A principal complexidade desse processo não é o fato de que, diferentemente das fases anteriores da logística, onde grandes volumes de produtos são movimentados em conjunto, na última milha, a entrega é fragmentada. Isso significa que um veículo precisa percorrer vários caminhos, muitas vezes distantes entre si, o que torna o custo operacional de entrega significativamente maior.
Estudos indicam que a última milha pode representar entre 41% e 53% do custo total da logística de transporte, tornando-se o maior gargalo para a rentabilidade das operações de entrega.
Por Que os Custos da Última Milha estão Aumentando?
Vários fatores positivos para o crescimento contínuo dos custos logísticos na última milha. Desde mudanças no comportamento do consumidor até desafios regulatórios e tecnológicos, uma tendência de encarecimento é impulsionada por múltiplas variáveis. A seguir, destacamos os principais fatores responsáveis pelo aumento dos custos:
1. Crescente Demanda por Entregas Rápidas
Nos últimos anos, a exigência dos consumidores por entregas cada vez mais rápidas tem impulsionado a necessidade de investimentos pesados em infraestrutura logística. O modelo tradicional de entregas em 5 a 7 dias serviu para substituir os serviços de entrega no mesmo dia ou até em poucas horas , aumentando significativamente os custos operacionais.
Uma pesquisa do Statista indica que a demanda por entregas ultrarrápidas cresceu 78% entre 2019 e 2023 . Isso forçou as empresas a investir em frotas maiores, armazéns urbanos (micro centros de atendimento) e tecnologias de otimização de rotas para conseguir atender a esses novos padrões.
2. Expansão da Área de Cobertura e Entregas em Regiões Remotas
Com a popularização do e-commerce, as empresas precisaram ampliar suas áreas de entrega, atingindo não apenas grandes centros urbanos, mas também regiões suburbanas e rurais. O problema é que a densidade de pedidos nessas regiões é menor, o que faz com que os custos de entrega sejam significativamente mais altos.
De acordo com um estudo da McKinsey , o custo para entregas em áreas suburbanas e rurais pode ser 50% maior do que em áreas urbanas densas, devido ao maior tempo de deslocamento e à menor eficiência logística.
3. Escassez de Mão de Obra e Regulamentações Trabalhistas
A última milha depende fortemente de uma força de trabalho composta por motoristas e entregadores. No entanto, a escassez desses profissionais levou a um aumento na evolução e nos benefícios exigidos pelas regulamentações trabalhistas.
Em muitos países, novas legislações passaram a classificar motoristas de aplicativos e entregadores como empregados, aumentando os custos de encargos sociais para empresas de logística e marketplaces. Além disso, a alta rotatividade nesse setor obriga as empresas a investirem constantemente em recrutamento e treinamento.
4. Sustentabilidade e Regulamentações Ambientais
As questões ambientais e a pressão regulatória sobre emissões de carbono também estão impactando os custos da última milha. Muitas cidades implementam zonas de baixas emissões , onde apenas veículos elétricos ou com baixa pegada de carbono podem operar, o que força as empresas a investirem em novas frotas mais caras.
Além disso, há um custo adicional adicionado à adoção de combustíveis alternativos, como biodiesel e eletrificação da frota. Apesar de benéfico no longo prazo, esse investimento inicial representa um aumento de custos significativos para as empresas de logística.
5. Alta Taxa de Falha na Entrega
Uma parcela das entregas específicas falhou na primeira tentativa, seja porque o cliente não estava em casa, apareceu um endereço incorreto ou houve dificuldades de acesso ao local. Isso gera custos adicionais com reentregas, armazenamento temporário e logística reversa.
Estudos apontam que a taxa média de falhas nas entregas B2C pode chegar a 20% , impactando diretamente a eficiência operacional e aumentando o custo por entrega[6].
6. Inflação e Custo de Combustível
A inflação global e a volatilidade dos preços dos combustíveis também contribuíram para o aumento dos custos logísticos. O Índice de Frete da Cass Sistemas de Informação revelou que os custos de transporte aumentaram 18% ao ano entre 2021 e 2023 , refletindo diretamente nos preços finais das entregas.
Além do combustível, outros custos operacionais, como manutenção de veículos, aluguel de armazéns e seguros, também subiram significativamente nos últimos anos.
Tendências e Soluções para Reduzir Custos
Apesar da crescente pressão sobre os custos da última milha, algumas inovações e estratégias podem ajudar a mitigar esse impacto. As empresas estão investindo em tecnologia e reestruturando seus modelos logísticos para garantir maior eficiência operacional.
1. Inteligência Artificial e Otimização de Rotas
Ferramentas baseadas em IA e machine learning estão sendo usadas para otimizar rotas, reduzir distâncias percorridas e melhorar a eficiência das entregas. Segundo o Gartner , a roteirização inteligente pode reduzir os custos logísticos em até 20% .
2. Automação e Entregas Autônomas
Drones, robôs de entrega e veículos independentes são alternativas promissórias para reduzir os custos com mão de obra. Empresas como Amazon, FedEx e UPS já investem em projetos piloto para tornar essas tecnologias viáveis em larga escala.
3. Modelos de Micro Fulfillment Centers
O uso de pequenos centros de distribuição dentro das cidades permite reduzir o tempo e a distância das entregas. Segundo um estudo da Deloitte , essa estratégia pode cortar os custos da última milha em até 30% .
4. Plataformas de Crowdshipping
Modelos baseados em economia compartilhada, como Uber Freight e Rappi , utilizam motoristas independentes para tornar a logística mais flexível e escalável, reduzindo a necessidade de frotas próprias.
Conclusão
A logística de última milha é um dos maiores desafios do setor de transporte e e-commerce. A crescente demanda por entregas rápidas, a expansão geográfica, os custos trabalhistas, a regulamentação ambiental e a inflação são fatores que aumentam para o aumento contínuo dos custos operacionais.
No entanto, as empresas que investem em inovação, automação e otimização logística terão mais chances de mitigar esses custos e oferecer um serviço mais eficiente e competitivo. O futuro da última milha será cada vez mais tecnológico, sustentável e orientado por dados, moldando uma nova era para a distribuição urbana.